Ex-diretor do Deto foi orientado por procurador para manter fraude, diz MP.
Um procurador do Estado orientou o ex-diretor do Departamento de Transporte Oficial do Paraná (Deto) Ernani Delicato para que os consertos de carros do governo na oficina Providence, vencedora de uma licitação fraudulenta, fossem mantidos, conforme comprovam interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça e divulgadas nesta quinta-feira (2).
O contrato com a Providence foi suspenso pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR), em 18 de dezembro, depois que o dono da oficina Montavel, empresa que prestava o serviço anteriormente, recorreu. A alegação era de que a empresa tinha direito de prorrogação de contrato, mas o Deto teria forçado um contrato emergencial para que a Providence vencesse.
O procurador citado nas investigações é Cassiano André Kaminiski, da Procuradoria Geral do Estado. Segundo o Ministério Público, Delicato contou a Ismar Ieger, dono "oficial" da Providence, que "o procurador teria ido até o Departamento de Transportes e informado que o mecânico não deveria interromper a prestação dos serviços".
Ieger, na verdade, era "laranja" de Luiz Abi Antoun, parente do governador Beto Richa (PSDB), o verdadeiro dono da oficina, conforme apontam as investigações do Gaeco. Para repassar as recomendações do procurador, Delicato ligou para o mecânico, em 19 de dezembro.
"Ismar, é o seguinte: o procurador veio agora aqui na minha mesa. Ele falou assim: Ernani faça o seguinte, como ‘tá’ (sic) a princípio suspenso o serviço com a Providence a pedido do Tribunal de Contas, não deixe no sistema mais, bloqueie, pode fazer lá o serviço, mas bloqueie", diz o ex-diretor do Deto no telefonema.
Três dias depois, Delicato faz outra ligação a Ieger para confirmar se o mecânico está seguindo o combinado. "Cê (sic) tá fazendo o serviço aí, né? Abrindo SMV [ordem de serviço] ou não?", pergunta o ex-diretor do Deto. O mecânico responde: "Não, só para as ordens de serviços internas aqui". Delicato se satisfaz: "Melhor ainda. Depois a gente abre tudo e resolve essa parte".O bloqueio significa não abrir uma ordem de serviço, uma autorização oficial do governo para fazer o conserto.
Delicato e a secretária estadual de Administração, Dinorah Nogara, entraram com recurso no Tribunal de Contas e a decisão que suspendia os serviços na Providence foi revogada. A oficina continou trabalhando normalmente até março deste ano, quando a Operação Voldemort foi deflagrada - e a fraude foi descoberta.
Em nota, o conselheiro do TCE Durval Amaral, relator do caso, disse que aceitou os argumentos porque havia a possibilidade de "dano irreparável à população". Ele lembrou que a decisão é provisória e que o caso ainda não foi julgado.
Dinorah também divulgou nota, mas não comentou porque recorreu da decisão. "É dever a administração defender os interesses do estado, dentro da legalidade", limitou-se a dizer a secretária.
A Secretaria de Administração informou que não foi notificada pela Justiça e não conhece o teor da investigação - por isso, não há como oferecer justificativas satisfatórias às denúncias. Os advogados de Delicato e de Ieger afirmaram que não vão comentar o caso. O procurador Cassiano Kamisnki também não quis falar sobre as investigações.
Fonte : G1